segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


Acreditou no Câmbio? Sifu!
É a pegadinha do malandro...



Tem horas que me pergunto se fazer política é negar o óbvio para a população, contemporizando a fim de estar preparado quando o pior chegar. Claro que o governo Lula não inventou o artifício estilo “Pegadinha do Malandro”. Porém, como em outros casos (o próprio Mensalão, ou as negativas veementes de FHC antes da mega desvalorização do início de 1999), está havendo um excesso de estresse no mecanismo, até o ponto em que ele se tornará inócuo e a credibilidade do governo como orientador das expectativas sofrerá um sério revés.

A recente desvalorização cambial (iniciada pelo dia 03/09/08) seria um novo exemplo, porém não será o último. Já vemos a Dilma Roussef e o Paulo Bernardo “afirmando negativas”. Isso, segundo o economista Márcio Holland da FGV de Sampa, é um bom indicativo para que apostemos no contrário. Se eles afirmam a negação, aposte no que está sendo negado. ( http://www.eesp.fgv.br/blog_detalhe.php?idBlog=46 )

Mas essa desvalorização recente do Real frente o Dólar seria até agora o caso mais grave. Aracruz, Sadia, Votorantim e outras empresas, que ou não divulgaram balanços ou não são grandes o suficiente para receberem o enfoque, podem ser o link entre nós e a Economia Mundial. Será que isso finalmente levará a chão a nova idéia do Descolamento que o Mantega se amarra em afirmar?

Pois não pensem vocês que somente as grandes sofreram. Conforme o Brasil foi se integrando ao comércio internacional a partir do Collor (valeu Dionísio Dias Carneiro e seu texto sobre as caravelas queimadas), cada vez mais houve a democratização dos produtos importados. Salmão, Batatas Pringles, I-Pods, Notebooks, Vinhos e uma gama infinita de produtos se tornaram parte do nosso dia a dia. Sem contar os insumos que diversas indústrias trazem de fora.

No entanto, as exportações se concentraram na mão de alguns poucos. E como importador é tratado no Brasil como contrabandista picareta, só houve espaço nos jornais aos prejuízos astronômicos que os exportadores concentrados tiveram. Mas a verdade é que, tanto importadores quanto exportadores, todos apostaram errado no dólar e todos Sifu!

Agora me pergunto. Essa prática de negar o óbvio tem culpa no cartório? Claro que a ganância das firmas também têm. Mas seria culpa das firmas isoladamente?

Para termos um indicador da resposta, observem o gráfico abaixo, no qual plotei dia a dia as cotações de fechamento da IBOVESPA versus a Taxa de Câmbio R$/US$.


Enquanto a Bovespa caminhava para atingir seu Pico Histórico no fechamento, (acho que em 19/05/2008), o Real foi se valorizando, quase linearmente, reafirmando a crença comum e um pouco grosseira dos corretores de câmbio: “Se a Bovespa está subindo, o dólar ta caindo”. Todo mundo ainda embalado na bolha mundial.

Porém, a partir desse pico, a Bovespa inverte seu caminho com o dólar acompanhando a queda. Aliás, o dólar acompanhou caindo ainda mais linearmente que antes. Acho que alguns corretores de câmbio chegaram a rever suas vidas nesse momento. A crise já havia se iniciado nos EUA (alguns colocam o Northern Rock na GB como uns dos primeiros indícios), mas aqui as autoridades afirmavam o Descolamento, usando como argumento exatamente os dados da Bovespa e do Câmbio!

Quem não lembra do Lula dizendo que a crise aqui seria um resfriadinho, uma marola, e coisas do gênero? O Mantega se apegando ao descolamento, dizendo com orgulho que o que acontecia nos mercados financeiros do norte não mais afetavam São Paulo?

Portanto, apostar na contínua queda do dólar parecia natural, tendo em vista que ele continuava em queda constante por um ano seguido, a despeito do que acontecesse no além mar.

Junte a isso a subida dos juros, que a meu ver utilizava deliberadamente a desvalorização do dólar como arma contra a inflação, e um Lehman Brothers armado como uma bomba-relógio (explodiu depois daquela fatídica semana em que AIG, Merrill Lynch e o Lehman estavam mendigando socorro – coincidentemente quando o real inverteu e se desvalorizou bruscamente).

Pronto! Estava armada a cama de gato que pegou as empresas brasileiras.
P.s.: Isso me faz lembrar uma pesquisa da consultoria Nielsen, que mostra o Brasil encabeçando uma lista de 47 países com a população que mais acredita em propagandas. Bem, todo povo tem o governante que merece, não é mesmo?