segunda-feira, 19 de novembro de 2007

E, no segundo mandato, Lula disse: Por que no te callas, dissidente




O governo é um Leviatã, já dizia Hobbes. Um monstro pensante e inumano que toma suas atitudes baseadas em uma lógica alheia à nossa. Daí seria razoável supor que as paixões e sentimentos não deveriam aparecer em relações entre instituições. Não é bem assim. Agora o “cala boca” está na moda, com até um rei perdendo a compostura.

Normalmente em instituições autoritárias fica mais fácil o Leviatã cambalear e mostrar a verdadeira face do humano que toma as decisões: o ditador, o déspota, o tirano. Isso fica mais difícil em instituições democráticas, pois a decisão não parte de uma única pessoa. Em uma ditadura essa correspondência biunívoca “eu sou o governo e o governo sou eu” fica mais escancarada. Talvez seja assim que devamos apreender o fato ocorrido no IPEA dia 16 de Novembro de 2007.

Na minha opinião robótica, tudo começou com a ministra Dilma Rouseff declarando que “... despesa corrente é vida.”

Aí já estava sintetizada em uma única frase toda a política econômica do 2º Governo Lula. Gastar agora para conseguir os votos do 3º mandato. Claro que existem os dissidentes atentos a denunciar essa estratégia, e lógico que eles devem cair numa sociedade em que a democracia está em baixa.

Foi exatamente essa a razão. Por isso saíram os dissidentes Regis Bonelli, Fabio Giambiagi, Gervásio Rezende e Otávio Tourinho.

No caso do Giambiagi, o qual conheço um pouco melhor, creio que um dos motivos para a sua saída foi a recomendação para política fiscal que indica uma disciplina dos gastos correntes, no texto para discussão Nº 1193 do IPEA (Cenários para a Relação Dívida Pública/PIB: Simulações e Perspectivas de Redução da Carga Tributária e da Relação Gasto Corrente/PIB). Só pelo título já entendemos o alinhamento do rapaz.

Com esses afastamentos, fica na cara que o Governo Lula não vai desencantar a maldição brasileira que existe em toda nossa história econômica republicana. Essa maldição foi estudada no ótimo livro “A Ordem do Progresso”, no qual mostra que um governante chega, arruma a casa em uma “janela de oportunidade internacional” para logo depois vir um espertalhão mal intencionado e acabar com tudo.

Por isso, o alinhamento Delfim Neto e Lula não me espanta. Pois Delfim foi o cara que melou a arrumação na casa feita pelo Bob Fields e o Simonsen após o governo populista do Jango.

E se achamos que esse cala boca é algo novo que não aconteceu nem na ditadura, como disse o Delfim Neto em uma entrevista aos jornais, basta lembrarmos que o próprio Delfim foi o protagonista de uma saia justa ao ordenar a manipulação dos índices de inflação de 1972 e 1973 para que eles chegassem perto da meta de 12%. Tanto que o Simonsen ao retornar ao governo militar teve que recalcular tudo e pedir desculpas pela sacanagem feita pelo “mui amigo” antecessor. Fato muito semelhante ao ocorrido na Argentina este ano, no qual o Governo Kirchner (o do marido) demitiu uma pesquisadora que denunciou o esquema para diminuir os índices de inflação oficiais. (esta matéria pode dar umas pistas para quem quiser pesquisar mais: http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=14%2C0%2C+%2C994476%2CUIOU )