Porém, não esperávamos que ele iria tão longe, querendo desfazer a própria estabilidade do Real.
A economia já teve períodos com altas semelhantes do IGP-M para um mês após o plano real, no entanto, desta vez a aceleração da inflação está patente. O que está acontecendo não é uma observação pontual, porém um novo patamar de inflação. Notem o gráfico abaixo:
Já é possível até escutar as desculpas. Vão culpar a alta das commodities, dizer que o Brasil está importando a inflação. E isso até que explica parte. No entanto, não explica por que o Governo, antecipando que uma inflação internacional mais alta seria importada, não tomou medidas corretivas.
Para se corrigir este problema o Ministro da Fazenda, o Manteiga, teria que cortar os seus gastos públicos e acomodar esta alta de um dos componentes da demanda agregada. Mas como Dilma disse, Gasto Corrente é Vida. Cortar gastos agora é inviável para que um partido baseado no mensalão continue executando suas reformas.
Além disso, não explica por que, ao invés de tomar essas medidas corretivas de ajustes fiscais, Lula continua gastando e gastando mais. Dessa forma o Bacen não tem outra alternativa a não ser reprimir a oferta de moeda através do aumento dos juros. Isso enxugaria a liquidez do mercado, frearia a demanda agregada e sugaria os dólares excedentes que o preço das commodities tem dado ao Brasil. Mas como sempre, tudo depende de qual força é a mais forte: o estímulo fiscal ou o breque monetário.
No fim, o que teremos como resultado será o "crowding out": investimentos produtivos indo embora para dar lugar à demanda crescente do governo e ao "cosumismo" na demanda agregada.
Essa aceleração pode colocar o Brasil à beira de um círculo vicioso, com cada um dos estratos sociais tentando empurrar para o outro estrato o seu custo adicional da inflação: os trabalhadores do campo exigem maiores salários, pois pra ganhar o que ganham preferem ficar em casa com o bolsa família; os produtores de alimentos e outros insumos repassam esse custo nos seus preços; os donos das indústrias começam a cobrar mais pelos seus produtos para repassar o IGP-M, empurrando para o consumidor essa inflação de seus insumos; os trabalhadores das cidades começam a exigir maiores reajustes devido aos custos de vida crescentes; os seus patrões repassam isso em seus preços de serviços e juros de financiamento; e assim vai, criamos o carnaval dos preços relativos, que descamba para o retorno da inflação mais grave.
No fim, a nota de cem deixará de ser algo nunca dantes visto para se tornar um comum papel toalha, forro de gaiola de passarinho ou até papel higiênico.